Fonte do Sul Associação - Sustentabilidade e Ambiente, Aljustrel, Beja, Baixo Alentejo

Monday 2 May 2016

A Horta biológica

Assim que nos instalámos, pensámos em começar a nossa horta à porta de casa. Faz todo o sentido ter uma horta em casa, os alimentos e plantas estão ali, é possível colher imediatamente antes de comer ou cozinhar, e viver junto da horta permite dar-lhe uma atenção muito maior, o que contribui para o seu desenvolvimento saudável.

Cultivar a nossa própria comida é como imprimir o nosso dinheiro, e uma horta feliz faz uma casa feliz.

Como o quintal desta casa é inclinado, optámos por cultivar em socalcos, usando madeira, para que a água possa infiltrar-se, e eventualmente, fazer apodrecer as madeiras, transformando-as em matéria orgânica.

Em Novembro, os primeiros dois socalcos foram preparados com mulching de papel e cartão sobre as ervas, estrume compostado, e por fim palha. Semeámos favas, porque tínhamos acabado de chegar e as favas nunca deixam ninguém ficar mal: podem ser semeadas em local definitivo, nascem facilmente e são muito produtivas.

Nessa altura lemos um post no permies sobre favas que tinha montes de informação, para quem quiser ler em inglês, recomendamos.

Não semeámos todas de uma vez, demos algumas semanas de intervalo, para podermos ir colhendo durante algum tempo, à medida das nossas necessidades. Assim não precisamos de secar favas, nem pensar na sua conservação, podemos colher frescas, durante um período de tempo.

Tínhamos já algumas plantas medicinais, que fomos plantando nos limites  dos socalcos, para atrair insectos benéficos como a joaninha e a libelinha, e para desencorajar as pragas. Começámos com Mentha aquatica, Ellettaria cardamomum, Vitex, Gerânio, alfazema, alecrim, consolda, erva-príncepe, já vivia lá um jovem rícino, espontâneo.

Entretanto chegaram os porquinhos, estas bolinhas de pêlo são o divertimento desta horta, gostam de compostar ervas de uma dia para o outro, dão saltinhos e comunicam a toda a hora.

Aqui na foto temos a Mantinha, nascida cá em casa no fim de 2015, ao lado de um isqueiro para se ver o tamanhinho dela. Agora já cresceu muito mais.

Vamos pondo os porquinhos a ceifar, e o cartão dos fundos das gaiolas vai para o minhocário, ou para o mulching.

A nossa receita de mulching envolve aproveitar materiais disponíveis, como o papel e cartão, ervas, palha, estrume de porquinho-da-índia e estrume compostado de animais diversos, do monte da minha família.

Como o quintal não tinha terra, tivémos que fazer uma boa camada de mulching, elevando o solo entre 15 a 30 cm, trata-se de uma enorme quantidade de matéria orgânica, algo demorado e trabalhoso, mas que uma vez feito, começa a dar frutos.

Não somos apologistas de cavar/lavrar, ganha-se mais em deixar que as raízes façam esse trabalho, e escolher plantas adequadas para o efeito: fava, dente-de-leão, consolda, etc.

Acrescentar matéria orgânica e palha regularmente também areja e fertiliza o solo.

Este talhão, aqui na foto, deu-nos bastante trabalho, muitas cargas de estrume, e sim, aquilo ali atrás é um fardo de palha, que usámos para mulching. A palha mantem o solo húmido, reduz a evaporação da água, serve de abrigo a pequenos animais, faz proliferar os cogumelos rapidamente. Funciona bem com os morangueiros, elimina a necessidade de utilizar plástico.

O estrume e a palha foram gentilmente cedidos pelos meus tios, e foram uma enorme ajuda, creio que são os ingredientes essenciais para um bom jardim.

Aqui está o progresso da horta, algum tempo depois, esta "pedra" é cimento que foi deixado ainda da construção da casa, tinha uns papiros ao lado, que transplantámos cuidadosamente, e partimos o cimento com martelo pneumático.

Semeámos umas batatas em saco, para usar menos espaço e ter muitas batatas na mesma, e fizémos socalcos, para seguir a elevação natural do terreno.

Temos um pequeno "tractor de porquinhos" para a horta, com a largura dos nossos socalcos. O estrume deles enriquece a horta, e as ervas servem-lhes como alimento, encontrar estas parcerias é importante quando queremos criar um ecosistema funcional, onde a nossa interferência é acessória.


Pensando num Verão bem rigoroso, fomos encontrando forma de acomodar algumas árvores, para fazer a retenção de humidade e evitar que o jardim morra queimado durante o mês de Agosto.

Também pensando nos níveis de humidade, fizémos um pequeno lago, com um pneu, para reter mais humidade durante o Verão.

Apenas com 30 cm de profundidade, não pensamos dar lá mergulhos, mas podemos assim cultivar algumas plantas aquáticas e ter uns peixinhos, aprender num modelo pequeno para brevemente fazer em grande! Gostávamos que aparecesse uma rã, mas ainda não tivémos essa sorte.

Um pequeno lago no jardim pode ser utilizado para cultivar coentro vietnamita, agrião, vários tipos de mentas, poejo muito tradicional desta região, hortelã-da-ribeira...

As Menthas devem ser colocadas em vasos separados, as suas raízes misturam-se, pode resultar numa alteração aromática e degenerar as espécies.

O nosso primo trouxe uns peixes, 8 jovens percas que passaram a viver aqui em permanência, e um lagostim, que nunca mais o vi, mas imagino que continua lá.

Temos Jacinto-de-água, pinheirinho e Lemna minor dentro do lago, para fazer sombra, refrescar e purificar a água.

Ainda não temos plantas muito crescidas neste jardim, para além das favas, mas tudo parece estar a dar-se bem, a colecção das aromáticas e medicinais tem crescido, graças às sementes importadas e podas colhidas nos lindos campos que nos rodeiam.

Ainda não conseguimos implementar dente-de-leão na nossa horta, se alguém conhecer uma estratégia, contem-nos como se faz!

Quando as favas estavam a meio do seu desenvolvimento, apareceu o pulgão, e embora o pulgão não mate a fava, prejudica o seu desenvolvimento.

Para o pulgão usamos spray de sabão num pulverizador, funciona como insecticida natural, mas é necessário repetir a aplicação com regularidade, mais ou menos de 15 em 15 dias, ou todas as semanas em tempo de chuva.

Com o tempo deverão aparecer os predadores naturais destes animais, mas para que estes se fixem na horta, não se pode usar o spray de sabão, espero que esta tenha sido a última vez que precisámos de usar.

Colhemos as primeiras favas em Abril, fizémos Pesto de Fava.
Ainda em Abril fizémos Favas com pimentos.
Já temos umas alfaces, acelgas e espinafres, para ir comendo uns verdes biológicos regularmente :)

Durante este tempo todo, fizémos muito menos do que gostaríamos de ter feito. O tempo passou tão rápido que não deu para tudo, acredito que seja um erro de expectativa...As coisas aqui acontecem mais devagar e demoram realmente tempo a fazer.

A todos os amigos a quem não ligámos ou enviámos email, pedimos desculpa, acreditem: parece que só passou um semana! Mas escrevam-nos e nós responderemos :)

Namasté!

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